5 de junho de 2013
Tempos de imaginação
A aula havia acabado, então, sem delonga, correram para a praça e deitaram-se na grama. Depois de um tempo, um puxou assunto:
- Se as nuvens pensassem, o que estariam cochichando sobre tudo isso?
- Bom, não sei. Deve ser diferente lá de cima. Mas quem disse que elas não pensam?
- Ninguém, ou melhor, todos. Nunca ouvi alguém dizer que nuvens são racionais ou que são algo mais que vapor d'água.
- Elas pensam.
- Hum...
- Já ouvi conversarem também.
- E o que diziam essas nuvens falantes?
- Não tenho a mínima ideia.
- Como assim? Há pouco me disse que as ouviu conversando!
- Ouvi mesmo. Mas conversavam em nuvanês.
- Hum...
E ficaram lá, observando o céu.
21 de maio de 2013
Desapaixonando
Estou me desapaixonando, por você.
Já não é aquela ardência,
Aquele fogo vivo, que existe,
às vezes vai, mas volta.
O seu jeito está me acalmando, agora.
Minha normalidade está de volta
E talvez seja, este, meu último poema.
Última confissão de um réu.
As coisas estão parecendo adaptáveis
E tranquilas, como a água.
Amo muitas coisas, pessoas e ideias,
Como seu convite, para morarmos na lua.
Mas, se me perguntar, direi “não te amo”.
Não amo coisas à primeira vista.
Acredito que necessita-se de um vínculo
Afetuoso mais longo que um breve momento,
Para amar algo ou alguém.
Na verdade, o mais importante
É que posso te amar e espero que
Me permita, algum dia, fazê-lo.
Por isso e para que seja possível,
Estou me desapaixonando.
23 de março de 2013
Cupido, "El diablo"
O diabinho voava, por entre as cabeças,
Procurando pares, normais ou distraídos,
Participantes interessantes, para mais travessuras
Quando, como que por acaso, em meio a risos
Precedidos de um abraço, os encontrou
Tagarelavam, perdidos na multidão
Recém conhecidos, porém já simpatizantes
'Ha! Parecem perfeitos!', pensou consigo
Mãos na arma, olhar voraz,
Uma gota de concentração, gélida, na tez
O tempo havia parado e o mundo calado,
Para o grande ato, a grande sacanagem
Pá!
Acertou em cheio! Danado.
Escolhidos aleatoriamente, agora, apenas
Encontraram liberdade no que os prende
Pobres inocentes... Escravos regozijantes
De seus sentimentos mútuos,
Da arte desse diabo vagal.
Esse tal Cupido
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